sábado, 27 de setembro de 2008

Venda Chassis. Algo bom ou ruim?

Afinal, é bom ou ruim para a Fórmula 1 as equipes poderem vender seus carros para outras?

Historicamente, uma das razões de a Fórmula 1 atingir o seu nível de excelência técnica foi a imposição de todos os times terem de conceber e produzir seus próprios monopostos.

A Minardi, tinha uma infra-estrutura técnica superior à maioria das demais escuderias do mundo, não importa a categoria a que pertençam. Produzir um projeto capaz de ser “apenas” 1,5 segundo mais lento que a supercampeã Ferrari de Michael Schumacher, por exemplo, como fazia a Minardi, é para bem poucos. Na Fórmula 1, contudo, raramente saía da última colocação.

Em outra competição, essa estrutura toda muito provavelmente levaria a Minardi ao sucesso, mas Formula 1 é Formula 1 meus amigos.

A Fórmula 1 mudou, como a maioria das equipes: Ferrari-Fiat, McLaren-Mercedes, BMW, Renault, Honda e Toyota. Essas montadoras têm capacidade de investimento quase ilimitada. Atualmente essas montadoras despejam na Fórmula 1 entre 300 e US$ 400 milhões por ano. Como um time independente pode competir contra elas?

Você pode me explicar um dos principais motivos de a Williams ter ficado tão para trás em comparação ao que era nos anos 90? Qual o orçamento da Williams, hoje? Talvez não mais de US$ 120 milhões, cerca de um terço das escuderias das montadoras. Faz uma enorme diferença.

Só que Frank Williams já foi grande e não tem iates e grandes posses por investir boa parte do que ganha no seu negócio, a equipe. E apenas por isso não está mais lá para trás.

Hoje, infelizmente, não há como um organização independente competir em condições de igualdade com uma representante de montadora. As diferenças de performances, já grandes, tendem a se tornar maiores com o passar dos anos. Max Mosley e Bernie Ecclestone há muito enxergaram.

A Fórmula 1 dos seus sonhos é ter 6 ou 7 times concebendo e produzindo seus carros e outros 5 os adquirindo, para correr até com o mesmo motor.

Por mais dinheiro que conseguissem de patrocínio, não se aproximariam da metade do orçamento dos times de fábrica. E, provavelmente, não acompanhariam suas evolução de performance, como ocorre. Queimariam dinheiro, num certo sentido, desestimularia outras empresas a investir nelas e em organizações de condição semelhante. Simplesmente por, se tudo der certo, quem sabe somar um potinho em alguma corrida. É muito pouco para quem coloca milhões de dólares no negócio.

Permitir que as escuderias corram com os carros de outras contrapõe-se ao que a Fórmula 1 preservou duramente ao longo de décadas e tão bem lhe fez. Mas a natureza dos participantes do evento mudou. O puritanismo não cabe mais. Para o bem dos próprios times sem apoio oficial de grandes grupos.

A tendência é termos, já a partir de 2009 assim como está sendo 2008, diferenças menores de desempenho entre as 12 equipes que irão disputar o Mundial. Representa chance maior de resultado para os “menores” e maior oportunidade de essas equipes descobrirem novos talentos, sua capacidade será mais visível. Não têm de ser, necessariamente, capacho das escuderias que cederam seus carros.

Quer um exemplo que estamos vendo diferenças menores? A equipe de Gerhard Berger, a STR, com um ótimo chassi (RBR) e um motor bom (Ferrari) que está evoluindo e se tornando melhor que sua apoiadora e "mãe" Red Bull.


Em resumo, como já escrevi antes, diante das atuais circunstâncias da Fórmula 1, a permissão para o comércio de chassis deverá ser um bom negócio para a competição.